quinta-feira, 24 de julho de 2008

Web incentiva consumo mirim



Aumento de acessos de crianças a sites gera a necessidade de controlar a publicidade na rede para o público infantil

Todos os dias, milhares de crianças navegam na internet no Brasil e, cada vez mais, esse número cresce. O último levantamento do Ibope/NET Ratings, de maio, constatou que 3.539 milhões de crianças, com idade entre 5 e 13 anos, acessaram sites infantis no País. A partir desse interesse crescente, empresas de produtos voltados para a garotada têm criado novas maneiras de atingir o nicho através da publicidade inserida na web.

Mesmo condenado por alguns especialistas, o marketing para o público infanto-juvenil é uma realidade. Dos seis sites mais acessados por crianças de 5 a 13 anos em maio, todos têm caráter comercial e oferecem algum produto.

Para a advogada Isabella Henriques, coordenadora do projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, qualquer tipo de publicidade voltada para o público infantil é nociva, uma vez que a criança não tem discernimento para entender o verdadeiro objetivo da propaganda. “Mesmo quando o pré-adolescente é mais velho e já sabe o que é merchandising, ele não compreende a complexidade das mensagens do mercado publicitário e adquire valores contaminados de consumismo”, explica.

A idéia do instituto é totalmente afinada com o Projeto de Lei nº 5.921/2001, que prevê proibição de publicidade e comunicação mercadológica dirigida a crianças de até 12 anos e também apresenta restrições à propaganda direcionada a adolescentes. De acordo com o projeto, não serão exibidas propagandas em TV, internet ou rádio 15 minutos antes, 15 minutos depois e durante a veiculação de programação infantil. Além disso, o projeto proíbe a participação de crianças em criações publicitárias.

Isabella Henriques ressalta que a internet requer cuidados ainda maiores dos pais, uma vez que, além dos produtos oferecidos através da propaganda, os próprios programas e sites podem tornar-se objeto de consumo excessivo no universo infantil.“Isso inclui, por exemplo, os próprios jogos e softwares que criam realidades virtuais que são, às vezes, completamente diferentes da vida que a garotada leva em casa”, diz a advogada.

Para a coordenadora do Alana, a criança exerce na família o papel de sensibilizar os pais a comprar novos bens. “São consideradas pelo mercado publicitário como um exército de promotores de venda. A web não poderia ficar de fora devido ao crescimento no número de acessos dos pequenos.”

Outro impacto possível decorrente desse bombardeio de propaganda é a criação de uma geração mais adulta, independente de classes e segmentos sociais. De acordo com a psicopedagoga Simone Bérgamo, essa sociedade crescerá acreditando que para ser é necessário ter. “As crianças de hoje querem receber em vez de realizar e, como estão cada vez mais ligadas à informática, o marketing nesse meio reforça essa idéia.”

Para quem faz publicidade, criar para o público infanto-juvenil na internet é algo natural, que, quando bem executado, não apresenta riscos a meninos e meninas. “O problema não está na propaganda, mas no modo como os sites utilizam. Não temos constrangimento em relação ao marketing direcionado às crianças, mas precisamos respeitar os parâmetros de cada faixa etária”, disse o presidente do Sindicato das Agências de Propaganda de Pernambuco, Antônio Carlos Vieira.

O analista de TI Gustavo Monteiro, pai do estudante Vinícius Azevedo, 9 anos, já foi surpreendido com um pedido do filho por um produto que viu anunciado na internet. “Geralmente, ele identifica produtos que lhe despertam interesse e me pede para fazer a compra”, conta. O analista não acredita, no entanto, que a internet influencie negativamente o filho. Ele considera a televisão mais danosa nesse aspecto. “Na internet, por mais pop-ups e banners que apareçam, a criança não vai necessariamente focar a atenção naquilo. Existem outras opções na mesma tela.”

O pensamento de Gustavo é compartilhado pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Paulo Cysneiros. Para ele, a relação entre internet e publicidade é normal e as crianças não podem ser excluídas. “O marketing é necessário e é claro que, assim como em outras mídias, é preciso haver disciplinamento legal.”

Nenhum comentário: